PARASHÁ COMENTADA
Parashiôt 27/28: Tazria/Metzorá Vayikra/Levitico 12 à 13 e
14 à 15
Haftará Tazria: II Reis 4:32 à 5:19; Mateus 8:1-14 e 11:2-6;
Marcos 1:40-45; Lucas 2:22-24, 5:12-16 e 7:18-23
Haftará Metzorá: II Reis 7:3-20; Mateus 9:20-26; Marcos 5:24-34;
Lucas 8:42-48, Hebreus 13:4
Shabbat, 29 de Abril de 2017 – 01 de Nisan de 5776
No Monte Sinai, D'us nos entregou a Torá, que significa direção.
Ela foi transmitida de geração em geração, sem falhar, até os dias de hoje.
Ela é dividida em cinco partes que por sua vez são divididas em porções; as parshiot que transmitem instruções, um roteiro completo de como devemos agir neste mundo, de acordo com o Próprio Autor, o Criador do Universo.
Ao descobrir a Torá, você encontrará algo que o fará olhar o mundo e as pessoas de forma diferente, e se conectará com à Fonte, uma inspiração permanente para viver uma vida mais significativa.
Viver Torá é viver os tempos sonhados e ansiados pelos nossos Sábios.
Este é um comentário sucinto e objetivo das Lições da Torah
e dos Profetas (ver Atos 13:15) ou Parashiôt, Nesta semana temos duas leituras
de Parashá, são as Parashiôt Tazria e Metzorá, a primeira começa com a Mitzvá
sobre qualquer mulher no ato de dar a luz (tazria)tradução
conceber uma nova vida. A Torah
então instrui a mulher a trazer um Olah Korbano e um Chatat também depois de
dar a luz. A Mitzvá de B’rit Milah, circuncisão caso a criança for menino, em
forma ritual no oitavo dia, é novamente citada.
Um caso interessante nos chama a atenção, este ritual de
purificação pós parto foi perfeitamente praticado por Myrian, a mãe de Yeshua,
vemos este relato na íntegra no Sêfer de Lucas:
“Completando-se o tempo da purificação deles(de Myrian e
Yeshua), de acordo com a Torah de Moisés, Yosef e Myrian levaram o menino a
Jerusalém para apresentá-lo ao Eterno, conforme está escrito na Torah do
Eterno: Todo primogênito do sexo masculino será consagrado a Adonai. E, para
oferecer o sacrifício, de acordo com o que diz a Torah do Eterno: duas rolinhas
ou dois pombinhos" (Lucas 2:22-24)
Segundo a teologia cristã defendida pela igreja de Roma,
Myrian teria sido concebida sem pecado original, é o que eles chamam de
“imaculada conceição/concepção”, segundo esta doutrina cristã, Myrian precisava
ter sido gerada sem pecado para que ela pudesse ser a mãe de um deus, por isso
ela é chamada de “Maria mãe de deus”, portanto seria “pura” desde o ventre da
mãe dela, acontece que toda esta falsa doutrina vai pelo ralo, simplesmente
porque a Torah declara que toda mulher após um parto torna-se ritualmente
IMPURA. E isso sem falar no relato de Lucas que declara que Myrian e seu filho
Yeshua estavam IMPUROS, por isso que Yosef os levou até o Templo de Jerusalém
para realizarem as oferendas de purificação registradas na Torah.
Observem como a Torah Sagrada DETONA com as doutrinas de
Roma, primeiro derruba a heresia da “imaculada conceição”, isto é, Myrian
estava tão impura como qualquer mulher ficaria após um parto, e a heresia do
tal “messias deus” ou “deus encarnado” também cai por terra pois, Yeshua também
ficou impuro após ter nascido, como qualquer criança ficaria.
Um comentário auxiliar
Para responder esta pergunta, seria lógico examinar
primeiro os detalhes destas duas leis. Em Vayicrá 12:7, lemos que uma mulher
que teve um filho deve trazer uma oferenda: "O Cohen oferecê-la-á perante
D'us e expiará por ela, e ela ficará purificada da fonte de seu sangue; esta é
a lei para aquela que dá à luz um menino ou uma menina." Esta lei provoca
uma pergunta óbvia: Qual foi o pecado desta mulher que necessita de expiação?
Os rabinos do Talmud fornecem uma resposta interessante
a este problema: enquanto está sob a tensão e dor do parto, pode ser que esta
mulher tenha jurado jamais retornar a seu marido, a fonte e causa de seu
sofrimento atual. Portanto, quando a mulher se recobra totalmente, volta para
seu marido e assim negligencia seu juramento anterior, na verdade está
quebrando este voto. Embora a Torá reconheça que este juramento foi feito sob
grande angústia e dor, mesmo assim a mulher não pode ser totalmente absolvida
de realizar qualquer tipo de penitência. Afinal, fez um juramento e isso não
pode ser desprezado. Portanto, a Torá possibilita à mulher a oportunidade de
obter completo perdão ao trazer uma oferenda.
A seguir, a Torah introduz o fenômeno de “Tzaraat” uma
doença sobrenatural que atacava pessoas, roupas e construções na terra santa.
Segundo os rabinos, esta espécie de lepra sempre se manifestava por causa do
pecado da Lashon Hará(língua maligna). A Lashon Hará implica não apenas a falar
mal dos outros mas também em levantar falso testemunho, fazer críticas maldosas
sobre alguém, lançar maldições, fazer fofocas, calúnias, estando a pessoa
afetada longe ou perto de quem fala. Foi o que aconteceu com Myrian, a irmã de
Moisés, ficou leprosa por ter feito críticas contra ele e sua esposa, veremos
mais precisamente este episódio em Parashiôt posteriores.
Vamos mudar a nossa atenção mais seguindo o mesmo curso da
discussão
agora ao segundo ponto em questão, a aflição
da tsaraat, descobrimos que a Torá inicia sua discussão da pessoa atacada por
esta doença sem nenhum tipo de introdução; o leitor é lançado imediatamente
numa discussão abrangente das várias formas e manifestações da tsaraat. A Torá
não menciona a causa do tsaraat em lugar algum, dessa forma deixando a pessoa
imaginar qual pecado poderia precipitar esta doença no corpo ou na propriedade
de alguém. Rashi oferece uma resposta baseada sobre o Talmud, de que a causa
primária do tsaraat é o grave crime de lashon hará. A fim de avaliar a
gravidade de suas ações, aquele que fala lashon hará é afligido com tsaraat.
Não apenas a pessoa afetada deve lidar com lesões cobrindo seu corpo, como
também é forçada a separar-se da comunidade em geral, e suportar um longo
processo de cura, assinalado por repetidas visitas do Cohen, para determinar o
status e o desenvolvimento da doença.
Espera-se que toda esta angústia e
tormento ajudarão a reconhecer seu mau procedimento e leve-a ao arrependimento.
Neste ponto, podemos facilmente entender a justaposição destes assuntos
aparentemente tão desconexos. A Torá aqui deseja nos ensinar o poder da
palavra. Enquanto a sociedade ocidental professa crenças como "as pedras
podem quebrar meus ossos, mas as palavras não podem ferir-me", o Judaísmo
atribui muito mais importância e significado à palavra falada.
Toda palavra pronunciada deve ser
cuidadosamente medida. Mesmo um juramento feito em meio as dores do parto deve
ser contabilizado. Até um comentário aparentemente inofensivo sobre um judeu
deve ser tratado. As palavras têm um significado. Não podemos permitir que
nossa boca aja livremente, sem qualquer preocupação quanto ao resultado. Assim
como a Torá nos foi outorgada no Monte Sinai, não por um rolo que caiu do céu,
mas através da palavra sagrada de D'us, assim também devemos nos purificar e
santificar nossas palavras.
O restante da porção descreve com
riqueza de detalhes as várias e numerosas manifestações desta doença, e de como
o Cohen possuía um papel importante no processo de cura (purificação), na
verdade o sacerdote exercia duas funções: uma, de oficializar como sacerdote
administrando e direcionando as oferendas dos israelitas no dia a dia do
acampamento, e outra, fazia as vezes de médico, examinando o paciente e dando
as devidas orientações higiênicas afastando o vetor da doença, seja ele a
pessoa ou o objeto contaminado do meio social, evitando assim uma contaminação
em massa do acampamento.
É interessante notar que a palavra
hebraica para "aflição de tzaraat" e para "prazer" são
escritas exatamente com as mesmas letras: Nun, Guimel, Ain( ג ). A aflição de
tzaraat é chamada
"negá", e prazer em
hebraico é “oneg”. A única diferença entre essas duas expressões é aonde o Ain
é colocado. Como “Ain” em hebraico significa "olho", podemos entender
que, se o Ain for colocado no lugar errado, causa uma doença, a negá. E se for
colocado no lugar certo, se o olho for corretamente direcionado causa prazer,
oneg. O prazer que vem de fargin. O prazer de observar o mundo através das
lentes da realidade.
Conhecida como Metzorá, a pessoa
afligida por uma mancha parecida com tsaraat na pele está sujeita a uma série
de exames por um Cohen, que declara se o paciente está tahor(limpo) ou
tamê(impuro). Se for tamê, ele será isolado para fora do acampamento, um
castigo apropriado para alguém cuja língua maligna fez com que pessoas se
separassem umas das outras criando uma série de problemas típicos de uma
fofoca, fuxico ou calúnia. Após descrever os vários tipos, cores e
manifestações da doença na pele, na cabeça e na barba da pessoa, a porção
conclui com uma discussão sobre as vestes contaminadas por tsaraat.
A Parashá
Metsorá
continua a discussão de tsaraat, detalhando o
processo de purificação de três partes da metsorá, ministrada por um Cohen,
completa com imersões, Corbanot, e a raspagem de todo o corpo. Após uma
demorada descrição da tsaraat em casas e a ordem de demolir toda a residência
caso a doença tenha se espalhado, o capítulo final da porção discute várias
categorias de emissões humanas naturais(homem e mulher), que tornam uma pessoa
impura em graus variáveis.
Se prestarmos bastante atenção ao assunto tratado por esta
Parashá, notamos que, na Parashá passada falava-se sobre o surgimento de uma
doença chamada na Torah de tsaraat, e, nesta Parashá o caso muda de atenção,
agora ao segundo ponto em questão, a aflição da tsaraat, descobrimos que a
Torah inicia sua discussão sobre a pessoa atacada por esta doença sem nenhum
tipo de introdução e depois fala de sua cura miraculosa, o leitor é lançado
imediatamente numa discussão abrangente das várias formas e manifestações da
tsaraat e sua possibilidade de cura.
A Torah não fala de que forma uma pessoa atacada por tsaraat
poderia ficar curada, ao contrário, esta Parashá já começa falando sobre a cura
dessa doença e de como a pessoa curada deveria proceder para ser considerada
legalmente pura. Esta lacuna deixada pela Torah só nos leva a pensar que, se
esta era mesmo uma doença espiritual causada por um grave pecado, a lashom
hera, então sua cura só poderia vir por meio de um milagre de D’us. E foi
justamente o que aconteceu. Um dos pré-requisitos para ser considerado Messias,
entre outras coisas ele deveria purificar leprosos, foi por isso que Yeshua
precisava ter purificado leprosos em seu tempo, e ele o fez, e não somente o
fez como também orientou aos curados que se apresentassem a um Cohem a fim de
serem considerados legalmente curados além de cumprirem com todas as exigências
da Torah em relação ao leproso depois de curado:
“Em seguida Yeshua lhe disse: Olhe, não conte isso a
ninguém. Mas vá mostrar-se ao Cohen e apresente a oferenda que Moshê ordenou,
para que sirva de testemunho" (Mateus 8:4)
Yeshua ordenou que os curados da lepra fizessem a oferenda
ordenada pela Torah em uma demonstração de perfeita harmonia entre ele e a
Torah do Eterno, com isso, vemos o herético argumento cristão de que Yeshua
veio para abolir a Torah por causa da Graça ir pelo ralo, Yeshua não só curava
como também ensinava aos curados de espírito a cumprir a Torah, esta é uma das
muitas vezes em que vemos o Messias em perfeita harmonia com a Torah do Eterno.
O Sentido Espiritual das
Parashiôt(comentários da Kabalah):
Sobre a Tazria, nesta porção da Torah, são abordadas as Leis
de doenças da pele, chamadas de “Tsaraat”. Embora tenha sido traduzida como
Lepra, esta doença de pele tem pouca semelhança com qualquer moléstia corporal.
A “tsaraat” é a manifestação física de uma doença espiritual.
O corpo humano tem uma linguagem própria, tanto fisicamente
(temperatura, pressão arterial, ritmo cardíaco) quanto do ponto de vista
simbólico. Cada falta ou desequilíbrio representa uma imperfeição da alma,
transformando-se em oportunidades de crescimento. Compreender e interpretar o
corpo e suas sensações pode ser uma importante ferramenta de autoconhecimento.
A doença não é uma punição, é um sinal de desequilíbrio, e uma oportunidade
para correção.
Para os sábios rabinos, a causa espiritual da doença citada,
é o Lashon Hará ou língua maldosa, o mal uso das palavras. No hebraico, as
palavras têm um significado e não podemos falar sem qualquer preocupação quanto
ao resultado. Toda palavra pronunciada deve ser cuidadosamente medida.
Precisamos ter o cuidado de evitar o ato de falar ou escutar coisas negativas
sobre outras pessoas, mesmo quando o conteúdo é verdadeiro. A Lashon Hará
inclui também o falso testemunho, a mentira, a lamúria ou as promessas feitas
de forma negligente. As palavras têm um significado e não podemos falar sem
qualquer preocupação quanto ao resultado.
Mas por que a Torah enfatiza justamente a transgressão de
Lashon Hará? O nosso comportamento no mundo físico, desperta forças espirituais
equivalentes nos mundos superiores. Quando as pessoas se respeitam e tratam os
outros com misericórdia, são despertadas forças espirituais de misericórdia
sobre todo o mundo. Já quando as pessoas são muito rigorosas com as outras, não
deixando nada passar, são despertadas sobre o mundo forças espirituais de
severidade e julgamento. Foi justamente por isso que o nosso irmão, apóstolo
Ya’akov(Tiago), escreveu acerca do bom uso das Palavras e do falar: “Meus
irmãos, não pretendam ser muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os
que ensinamos, seremos julgados com maior rigor. Todos tropeçamos de muitas
maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é um varão perfeito, sendo
também capaz de dominar todo o seu corpo” (Tiago 3:1-2) Ótimo este conselho de
Ya’akov, nos adverte a termos muito cuidado com aquilo que falamos a respeito
de nosso próximo e de como devemos usar nossas palavras para o bem dos outros.
Sobre a Metzorá, A Parashá Metzorá relata sobre uma pessoa
afligida por uma espécie de lepra, tanto em seu corpo como em sua propriedade,
e o tratamento que tais pessoas deveriam se submeter, isolando-se da
Comunidade(da família, filhos e entes queridos), ter mais cuidados de higiene e
pedir perdão ao Eterno suplicando por sua cura.
Espera-se que toda esta angústia e tormento ajudarão a
reconhecer seu mau procedimento que o levou a adquirir tal doença e leve-a ao
arrependimento. Neste ponto, podemos facilmente entender a justaposição destes
assuntos aparentemente tão desconexos. A Torah aqui deseja nos ensinar o poder
da Palavra.
Enquanto a sociedade ocidental professa crenças como
"as pedras podem quebrar meus ossos, mas as palavras não podem
ferir-me" ou “o que vem debaixo não me atinge”, o Judaísmo, ao contrário,
atribui muito mais importância e significado à palavra falada.
Quando a Torah se refere as impurezas de nosso corpo tais
como a emissão do fluxo seminal e a emissão do fluxo menstrual, ela não está
querendo deixar-nos em uma situação de opróbrio ou vergonha, absolutamente, a
lição aqui apresentada se refere a nossa condição de pecadores, mesmo sem
termos cometido pecado algum, que desabone nossa conduta diante do Eterno,
ainda assim somos indignos de estarmos em sua santíssima presença, o profeta
Isaías declara que até a nossa justiça, isto é, aquilo que consideramos mais
justos para nós, diante do Eterno são apenas trapos de imundícies (ver Isaías
64:6).
Há apenas um ser humano que foi considerado Tsadik(justo)
diante do Eterno, o Messias, por meio da justiça de um homem justo nós somos
justificados diante de D’us, conforme D’us tem dito: “Ele verá o fruto do
trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo,
o Justo, justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si”
(Isaías 53:11)
O Poder das Palavras
Por Steve Hyatt
O Chofetz
Chaim (Rabi Israel Hacohen, 1838-1933) concordou prontamente quando outro
rabino proeminente pediu sua ajuda num problema comunal em outra cidade da
Polônia. A participação do famoso Chofez Chaim certamente acrescentaria
considerável sucesso à missão devido ao respeito que lhe devotavam todos os
seus correligionários.
No decorrer
da viagem os dois rabinos pararam numa estalagem à beira da estrada para
fazerem uma refeição. Estavam contentes por comer naquele estabelecimento, pois
uma mulher judia, respeitada pelos seus altos padrões de cashrut, era a
dirigente. Os dois rabinos foram acomodados à mesa de honra e tratados com
todas as honras.
Após
terminarem a refeição, a proprietária foi até a mesa indagar se tinham
apreciado a comida.
O Chofetz
Chaim sorriu educadamente e respondeu: "Estava muito saborosa, gostei
bastante. Muito obrigado."
O outro
rabino disse: "A refeição estava muito boa, obrigado. Somente, se me
permite, a sopa poderia ter um pouco mais de sal."
Quando a
proprietária se afastou, o Chofetz Chaim voltou-se para seu acompanhante, e
numa voz angustiada declarou:
"Inacreditável!
Durante toda a minha vida tenho evitado falar ou ouvir lashon hará (calúnia
sobre um judeu) e aqui estou, indo numa viagem para cumprir uma mitsvá, e sou
colocado numa situação de ser obrigado a ouvir você falar lashon hará!
Arrependo-me profundamente do meu envolvimento nessa missão, pois não pode ser
uma verdadeira mitsvá. Se fosse, algo tão terrível não teria me
acontecido!"
O outro
rabino ficou chocado e aborrecido com a reação do Chofetz Chaim. Para ele,
parecia ser uma observação inocente. "O que há de tão terrível no meu
comentário? Apenas mencionei que um pouco de sal teria ajudado a comida, que se
não fosse por isso estaria excelente."
O Chofetz
Chaim começou a explicar-se. “Você com certeza não entende o poder que as
palavras possuem”! Apenas veja que reação em cadeia as suas palavras
desencadearam: Estou certo de que a dona da estalagem não faz a comida; ela
provavelmente emprega alguma pobre mulher para cozinhar; talvez mesmo uma viúva
que depende do trabalho para viver.
"Devido
ao seu comentário impensado, a empregada será repreendida por não colocar sal
suficiente na comida. Ela tentará defender-se, dizendo que colocou sal o
bastante, o que será uma mentira. Então a patroa a acusará de mentir, pois
certamente colocará a sua palavra acima da palavra da pobre cozinheira. Isso
levará a uma discussão, e a proprietária, em sua fúria, despedirá a pobre
mulher, que então não terá mais como sustentar a si mesma e à família. “E pense
quantos pecados foram causados por uma observação desastrosa”!
"Você
falou lashon hará e fez com que outros escutassem; fez a dona da estalagem
repetir o lashon hará; a pobre cozinheira foi obrigada a dizer uma mentira; a
patroa causou sofrimento à pobre mulher; suas palavras provocaram uma
discussão. Todas essas são violações da Torá!"
O rabino,
que ouvira atentamente a explicação do Chofetz Chaim, respondeu com respeito:
"Reb Yisrael Meir, não posso deixar de sentir que você está reagindo com
exagero a esse incidente. Minhas palavras casuais não poderiam ter criado
tamanho dano. Creio que o seu cenário simplesmente não é realista."
O Chofetz
Chaim levantou-se da cadeira, ainda agitado, e disse: "Se você não me
acredita, então siga-me até a cozinha e verá com seus próprios olhos o que
aconteceu!"
Os dois
rabinos entraram silenciosamente na cozinha, e se depararam com um quadro
triste: a proprietária estava de pé perante uma senhora idosa, passando-lhe uma
descompostura; a mulher tinha lágrimas correndo pela face. O rabino, abalado,
correu para a cozinheira e pediu-lhe perdão por toda a dor que tinha lhe
causado. Voltou-se então à proprietária e implorou a ela que o perdoasse e
esquecesse que ele tinha feito aquele comentário. Jamais pensara que aquilo
seria levado tão a sério.
A dona da
estalagem, que na verdade era uma pessoa bondosa por natureza, não tinha
pensado em demitir a empregada idosa, e ficou contente em aceder ao pedido do
rabino. Ela explicou que apenas tinha desejado comunicar à empregada que esta
deveria ser mais cuidadosa no futuro. Assegurou ao rabino que o emprego da
mulher estava seguro e que ele não precisava se preocupar. O rabino lançou um
olhar de entendimento ao Chofetz Chaim. Ele com certeza tinha adquirido um novo
respeito pelo grande poder das palavras.
Que Adonai Eterno abençoe a Leitura e o Estudo de sua
Palavra.